Um ataque de abelhas é algo onde
um escalador deve saber como se comportar, pois o desconhecimento e o desespero
podem lhe custar a vida.
"Esconder no bambuzal,
proteger o pescoço e a cabeça, se jogar no rio mais próximo... Quais são os procedimento corretos para uma situação como esta?"
Como Bombeiro Militar por profissão e escalador por estilo de vida, quero nesta
matéria listar algumas dicas, recomendações e instruções que recebidas no curso de apicultores e nas experiências do dia a dia de trabalho.
Além da dor, o principal sintoma que pode surgir imediatamente após uma ou algumas picadas de abelha, é o estreitamento da glote em função do choque, como tratamento imediato para esta situação seria a administração de Fenergan direto na veia, se não houver um profissional capacitado, o ideal é procurar o posto de saúde ou hospital mais próximo. O ideal também é sempre levar um antialergico em sua mochila.
COMO O VENENO SE MANIFESTA
Forte dor, nos primeiros 2 a 3 minutos, proporcional ao número de picadas e conforme o local do corpo
Inchação mais ou menos acentuada, de acordo com o local do corpo atingido
Vermelhidão no local da ferroada
Coceira local ou generalizada (nas pessoas alérgicas)
Aumento da temperatura corporal, principalmente no local da picada
Falta de ar (dificuldade de respirar)
Os lábios adquirem cor azulada (em casos de alergia)
Segue alguma outras recomendações importantes:
-A primeira recomendação é
correr para longe, se possível. Se afastar rapidamente do epicentro do
acontecimento. Por mais simples que parece essa ainda continua sendo a maneira mais simples e eficiente de minimizar um
ataque de abelhas.
-Caso não haja possibilidade de fuga, procure rapidamente algum arbusto ou
vegetação fechada, e entre o mais que puder debaixo da folhagem, ficando imóvel
e em silêncio. Outra possibilidade, esta para locais de vegetação rasteira, é
permanecer deitado e de bruços (barriga para baixo). No capinzal, deite e se enfie
o mais que puder, cobrindo-se puxando-o pra cima de sí. Cubra a cabeça com os
braços e tente não deixar muitas aberturas na sua roupa. Se tiver um casaco,
anorak, mochila, sleep, lona plástica ou qualquer objeto que possa ajudar a
cobrí-lo, use-o e tente ficar o mais imóvel possível, com o rosto protegido
pelo casaco/camiseta/mochila etc.
-Parece obvio, mas não gritar é mais um bizu, elas são atraídas por ruídos, principalmente os agudos. Meninas...
-Quanto mais escura a sua roupa, tanto mais elas podem atacar. Cores escuras
alvoroçam as abelhas, que só enxergam direito as cores mais escuras. É por esse
motivo que a maioria dos macacões de apicultor são brancos ou claros, porque
essas cores as acalmam.
-Uma dica das mais importântes, não mate as abelhas que pousa em você. Se você estiver com várias abelhas grudadas em você, entre na vegetação em silêncio
e tente retira-las da forma menos "destrutiva" possível. Cuidado também com aquelas penduradas pelo ferrão, retire com cuidado, peça ajuda a um amigo se possível. Esse procedimento evita que o cheiro do hormônio das abelhas fique no seu corpo. Usa folhas e arbustos també ajudam a camuflar este cheiro.
-Esse hormônio é realmente um prodígio da natureza, um sistema de comunicação
eficientíssimo entre as abelhas de uma mesma comunidade, pois sabe-se até hoje
que existem 3 ou 4 tipos diferentes de hormônios, cada um transmitindo uma
orientação distinta. Quanto mais você exala esse feronômio, mais abelhas você vai atrair pra você.
Existem 2 tipos ligados a
ataques. Ele são volatilizados no ar em menos de dois segundos após a picada, e
permanecem durante uns 20 segundos sendo exalados, atraindo rapidamente outras
abelhas, já com a ordem irrevogável de que devem atacar. Esse é o motivo pelo
qual na maioria dos casos de ataques ocorrem grandes "concentrações"
de picadas em pequenas regiões do corpo, também chamados de
"empeloteamento de abelhas", e outras área do corpo com poucas ou
nenhuma.
Ao contrário dos
marimbondos que podem picar "indefinidamente", as abelhas quando
picam morrem, pois seu aparelho excretor e reprodutor sai, arrancado pelas
ligações que tem com o ferrão e bolsa de veneno. As vezes, sobrevivem mais de
um dia. Portanto, abelhas que estão penduradas após terem picado não picarão
novamente, mas devem ser removidas por causa do cheiro.
-Extintores de incêndio, sejam qual for, nunca estão disponíveis em casos de
ataques, e seu raio de ação é restrito, por razões óbvias.
-Procure manter a calma, como em todas as situações de acidente. Parece bobo
recomendar isso, mas há relatos de pessoas que mantiveram a calma e tomaram um
número significativamente menor de picadas do que outras mais deseperadas e que
estavam bem ao lado.
Abelhas são seres muito
sensitivos e refinados. Alguma coisa em nosso nervosismo as alvoroça. Você ja viu aqueles doidos com enormes "barbas" de
abelhas? Tudo isso é controle psicológico.
-Proteja sobretudo os olhos.
Uma picada certeira, dada diretamente na superfície do olho tem quase 90% de
chances de ocasionar a perda total da visão. Há casos relatados. Na pior das
hipóteses, se o ataque for muito forte e você não conseguir abandonar o lugar,
pense direto nos olhos, e não os abra. Fique de bruços no chão e cubra a cabeça
o mais que puder, de olhos apertados.
-A magnitude do ataque é diretamente proporcional ao tamanho do enxame.
Quanto mais numeroso, mais instável é o clima "político" nele, mais
encorajado fica. Enxames populosos "clamam" por uma nova rainha, pra
poder se dividir e migrar, no seu ciclo normal. Esse é um momento ruim pra
cruzar um enxame desses. Por outro lado, uma vez dividido, se está ainda
enxameando, ou seja, procurando por uma casa, ou acabado de chegar a um lugar
que considerou adequado, passam a ser muito mais mansos.
-Por fim, a triste verdade, que já foi reportada como lenda: cada pessoa
possui uma reação distinta à picadas, e isso varia demais. Há casos de mortos
com 3 picadas (sim, três) e casos de sobreviventes com mais de 250. Cientificamente,
se diz que um ser humano pouquíssimo alérgico suporta no máximo 400 picadas.
(Acompanhe texto ao final destas recomendações, para saber mais sobre aspectos
clínicos das picadas e tratamento adequado)
·Nestas situações, naturalmente não é possível seguir uma "cartilha"
de passos pra se livrar do ataque, muitas vezes porque algumas circunstâncias
impedem, por exemplo, pra quem estava encordado e na parede, ficar de bruços ou
se esfregar na vegetação. As circunstâncias são muito importantes no desfecho
dos ataques, e em geral só conseguimos nos lembrar e fazer uma coisa ou outra,
nunca tudo, senão todo mundo se safaria bonitinho, coisa que infelizmente
raramente acontece.
Tudo acontece sempre muito
rápido, por isso mesmo é importante tomar uma atitude logo que a coisa inicia,
pois logo depois instaura-se o caos e o desespero, impedindo-nos de pensar em
uma atitude a tomar. Esse pânico representa perigo; podemos, em nosso
desespero, cair de um desnível perigoso. Mas se estivessem sofrendo um
ataque maciço, poderiam se desesperar e sofrer uma queda, até
isso é possível de acontecer, tropeçar, escorregar, ou mesmo se demorar a
fazer algo e levar um número fatal de picadas.
-Em todo o caso, se não existe um
passo a passo, um BIZU chave, pelo menos é bom memorizar algumas coisas, e tentar se lembrar
de algumas delas se um dia você precisar. Espero que nunca precisem, pois é um
momento muito ruim. Já tive a ruim experiencia de atender ao um senhor na cidade de Queimadas-PB, que levou centenas de picadas e não resistiu aos ferimentos. O retiramos com vida, porém ele não resistui aos ferimentos, e as consequencias das picadas. Retira-lo do local não foi tarefa fácil, poruque ao seu redor ainda existia centenas, o resgate valeu algumas picadas pra mim e para a guarnição que eu estava. Espero que estas informações possam ajudar, caso
necessário. Abaixo, segue um trabalho detalhado a respeito de providências
médicas a serem tomadas em casos como este.
Abelhas e Vespas
Os acidentes por picadas de
abelhas e vespas apresentam manifestações clínicas distintas, dependendo da
sensibilidade do indivíduo ao veneno e do número de picadas. O acidente mais
freqüente é aquele no qual um indivíduo não-sensibilizado ao veneno é acometido
por poucas picadas. Nestes casos, o quadro clínico limita-se à reação
inflamatória local, com pápulas eritematosas, dor e calor. Na maioria das vezes
esta situação é resolvida sem a participação médica.
Outra forma de apresentação
clínica é aquela na qual o indivíduo previamente sensibilizado a um ou mais
componentes do veneno manifesta reação de hipersensibilidade imediata. É
ocorrência grave, podendo ser desencadeada por apenas uma picada e exige a
intervenção imediata do médico. O quadro clínico em geral manifesta-se por
edema de glote e broncospasmo acompanhado de choque anafilático.
A terceira forma de apresentação
deste tipo de acidente é a de múltiplas picadas. Geralmente o acidente ocorre
com as abelhas do gênero Apis, quando o doente é atacado por um enxame - em
geral no campo. Nesse caso ocorre inoculação de grande quantidade de veneno,
devido às múltiplas picadas, em geral centenas ou milhares. Em decorrência,
manifestam-se vários sinais e sintomas, devido à ação das diversas frações do
veneno. Este tipo de acidente é raro.
O quadro clínico decorre da ação
das diferentes frações do veneno. Entre elas podemos citar: apamina,
fosfolipases A e B, peptídeos da família melitina, peptídeos degranuladores de
mastócitos (MCD), além de histamina, bradicinina e substâncias de reação lenta.
Ao darem entrada no hospital os doentes em geral apresentam dor generalizada, prurido intenso e agitação, podendo posteriormente evoluir para estado torporoso.
Ao darem entrada no hospital os doentes em geral apresentam dor generalizada, prurido intenso e agitação, podendo posteriormente evoluir para estado torporoso.
A utilização combinada de
anti-histamínicos, corticosteróides e meperidina contribui para controlar a dor,
o prurido e a agitação. A insuficiência respiratória pode se instalar
precocemente, sendo em geral acompanhada de edema de glote, broncospasmo e
edema generalizado das vias aéreas.
Estas alterações são causadas
pela histamina liberada em decorrência da ação de frações do veneno, entre elas
os peptídios da família melitina, a fosfolipase A e principalmente os peptídios
degranuladores de mastócitos. A utilização de anti-histamínicos,
corticosteróides e adrenalina, assim como a traqueostomia e/ou a intubação
endotraqueal, seguida de ventilação artificial, contribui sobremaneira para
controlar a insuficiência respiratória.
Hemólise intensa é freqüente, acompanhada de insuficiência renal.
Hemólise intensa é freqüente, acompanhada de insuficiência renal.
É causada pela ação da apamina,
pelos peptídios da família melitina e pela fosfolipase A sobre a membrana
eritrocitária. Os doentes podem evoluir também com hipertensão arterial,
decorrente possivelmente da hiperatividade simpática.
O tratamento de poucas picadas de
abelhas ou vespas em indivíduo não-sensibilizado deve ser à base de
anti-histamínicos sistêmicos e corticosteróides tópicos. Temos dado preferência
à dextroclorofeniramina (Polaramine ® ), na dose de 2 a 6 mg pela via oral, a
cada seis ou oito horas. Este tratamento deve ser mantido por três a cinco dias
de acordo com a evolução clínica. Além disso, devemos adicionar corticóides
tópicos isoladamente ou associados ao mentol a 0,5%.
O tratamento do indivíduo
sensibilizado que evolui com broncospasmo, edema de glote e choque anafilático
é o mesmo referido para as reações anafiláticas e anafilactóides, citado
anteriormente neste capítulo.
O tratamento do acidente por
múltiplas picadas de abelha ou vespas é sempre uma emergência médica.
Infelizmente ainda não se dispõe de um soro específico contra estes venenos,
embora já existam pesquisas em desenvolvimento. Devem ser tomadas as seguintes
providências imediatamente após o doente chegar ao hospital:
· ·
injetar, via intramuscular, uma ampola de prometazina (Fenergan ®); em crianças
utilizar 0,1 a 0,5 mg/kg de peso corporal.
· ·
injetar, via intramuscular, uma ampola de hipnoanalgésico do tipo meperidina
(Dolantina ®); em crianças aplicar 1,5 mg/kg de peso/dia.
· · se
estiver em estado de choque injetar, via subcutânea, 0,5 a uma ampola de
adrenalina aquosa 1:1.000. Em crianças utilizar 0,01 mg/kg de peso corporal.
· · se
houver broncospasmo com presença de sibilos, injetar, via intramuscular, uma
ampola de aminofilina. Em crianças utilizar 7 mg/kg de peso o que corresponde a
0,3 ml/kg de peso, seguidos da instalação de cateter de oxigênio. Manter o
esquema até o desaparecimento do broncospasmo.
· ·
cateterizar uma veia central, com posterior instalação de pressão venosa
central.
· ·
administrar, via endovenosa, 1 g de hidrocortisona (Solucortef ®). Em crianças
utilizar 7 mg/kg de peso corporal. Este esquema deve ser mantido por pelo menos
três a cinco dias, de acordo com a evolução clínica.
· ·
hidratar bem o doente com colóides e cristalóides, induzindo a seguir a diurese
osmótica com manitol a 20%, na dose de 100 ml, via endovenosa, a cada seis
horas para adultos, e 10 a 12,5 ml/Kg de peso corporal para crianças. O manitol
deverá ser mantido por pelo menos cinco dias. Deve-se tomar cuidado com uma
possível desidratação iatrogênica. Quando o doente apresentar anúria o manitol
está contra-indicado.
· ·
alcalinizar a urina com solução de bicarbonato de sódio na dose de 1 a 2 mEq/kg
de peso/dose a cada seis horas, para prevenir as lesões renais causadas pela
hemoglobinúria. O pH ácido da urina favorece as lesões renais.
· · retirar
os ferrões um por um, com o cuidado de evitar a inoculação do veneno neles
contido. Deve ser salientado que durante a picada apenas um terço do veneno
contido no ferrão é inoculado na vítima. O restante fica no aparelho
inoculador, situado na extremidade proximal do ferrão. A retirada incorreta dos
ferrões pode ser acompanhada de compressão deste aparelho. Como conseqüencia
haverá inoculação de grande quantidade de veneno. Para retirá-los, utilizar uma
gilete ou um pinça de Halsted aplicada rente à pele.
· ·
sondagem vesical e nasogástrica.
· ·
aplicação de permanganato de potássio na diluição de 1:40.000, para anti-sepsia
das áreas picadas.
· ·
alimentação enteral com cerca de 2.000 calorias por dia.
· ·
manutenção dos equilíbrios hidreletrolítico e acidobásico.
· ·
traqueostomia e/ou intubação orotraqueal, com instalação de respiração
assistida, quando indicada.
· · diálise
peritonial e/ou hemodiálise, quando houver insuficiência renal aguda.
· ·
prevenir a formação de escaras de decúbito; evitar infecções respiratórias
secundárias.
Nesta fotos estão Luciano, Cauí e
Maurício com roupas de apicultor na operação de remoção das abelhas que estão ainda alojadas
na via Revolução dos Bichos, na Pedra da Bicuda-PE.
Um Bizu final, em casos de ataca lige 193 e/ou 192 e/ou dirija-se rapidamente para o hospital mais próximo.
Fontes
Utilizadas:
Adaptado
do texto de João Paulo Mazili Costa
MARSKI FILHO, DAVI AUGUSTO
PHTLS
Imagens - escaladape.blogspot.com.br e do Google.
Nenhum comentário:
Postar um comentário